CANTO D' ALMA

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Um espaço de partilha de nós para vós e que pretende ser de todos nós.

Um local para usufruir e disfrutar da companhia uns dos outros num ambiente perfumado pelo aroma das artes.

terça-feira, 30 de março de 2010

Dias há...

Dias há
em que em mim se instala e me habita
uma angústia profunda.
Hoje, seguramente, é um desses dias.
Não me apetece
ver, nem estar e muito menos sentir alguém.
Quero estar apenas eu, sózinho,
com alguns os meus companheiros de longa data,
a minha dor e o meu sofrimento...
(e a espaços algumas recordações).
De quando em vez,
retorno-me à existência física
e espreito pela nesga da vidraça
que traz a presença do mundo até mim.
Lá fora chove!
Mas não tanto como de dentro mim...
não tanto como se me sangra a alma minha
face às desilusões da vida.
Hoje estamos assim
sem forças para “o quer mais que seja”
para além da mera existência basal.
Assim limito-me
a ficar imóvel (sereno q.b.) e a respirar...
na esperança que o amanhã
que se aproxima a cada segundo que passa
traga forças para realizar qualquer algo mais,
em relação a hoje...
nem que seja uma inabalável vontade
de não mais respirar!

A meu Pai

O céu chora a sua ausência mas em cada raio de sol,
por mais pequeno que seja, sentirei o seu abraço.
Revê-lo-ei vezes sem conta, vezes sem fim, a cada lembrança.
Recordarei para sempre os nossos momentos. Os fins de semana no quintal, as férias na terra, os passeios a Cacilhas com os cacilheiros e as pevides das solarengas tardes.
Já há muito que lhe tinha perdoado as vezes que tinha sido rude para comigo. São da esfera da vida difícil na qual foi criado e que o moldou.
Vi-o ontem sem vida e isso foi por demais doloroso.
Espero que não leve a mal mas prefiro guardá-lo na lembrança enquanto vivo. Não me conformo com a idéia de ter partido tão cedo. Ainda tínhamos tanto para saborear, para conversar, para rir e para chorar juntos.
Ensinou-me como a felicidade se encontra escondida nos momentos e nas coisas simples da vida e de como a sólida construção do ser humano está intimamente ligada à rectidão de carácter e à nobreza de espírito e o quanto tudo isto está longe de estar ligado à posse de bens materiais. Ser e Ter são como àgua e azeite... são tão distintos que não se misturam. Ensinou-me também que para se ser Homem não é preciso ir tirar cursos â NASA. Basta ser humilde ao ponto de aprender algo novo todos os dias, estar atento ao nosso semelhante e às suas necessidades, respeitá-lo enquanto ser sem olhar a posições sociais ou outra qualquer hierarquia... cada um vale pelo que é e não pelo que tem ou que demonstra ter. Adeus meu pai, agora o senhor é uma alma livre, um ente admirável despido de seu corpo, um ponto de Luz que para todo sempre me servirá de guia.
Algures no tempo, mais cedo ou mais tarde, reencontrar-nos-emos nesta ou nessa dimensão onde se encontra. Estou certo.
Faz hoje um ano que partiu - o tempo não pára - mas as recordações permanecem. Estará sempre no meu coração e no meu pensamento.
Por favor dê um abraço bem forte a toda nossa família que já se encontra por aí. Embora eles o saibam já, diga-lhes que os amo – mesmo aqueles que nunca conheci, como é o caso dos avós.
Por cá tentarei fazer o melhor que souber, que puder e que as forças e o estado de espírito me deixarem.
Um abraço do tamanho do mundo
Até já meu Pai

Muito provavelmente... sou eu

Um som de uma lágrima ecoa pelo espaço
e irrompe o silêncio.
Olho em volta e não vejo ninguém.
Pergunto a mim mesmo de onde virá tal som.
Meu querido amigo e irmão
detesto dizê-lo,
é-me difícil dizê-lo...
mas provavelmente sou eu.

Ao som da primeira
juntam-se-lhe o som de um milhão
e, provavelmente, mais outras tantas
num turbilhão de emoções mil.
Meu querido amigo e irmão
detesto dizê-lo,
é-me difícil dizê-lo...
mas... muito provavelmente sou mesmo eu.

Não sei porque da alma se me sangra tanta dor
não sei porque me sinto tanto
e tão profundamente imerso em sofrimento
sei que lá fora chove copiosamente
mas não tanto como dos olhos meus.
Meu querido amigo e irmão
detesto dizê-lo,
é-me difícil dizê-lo...
Olho em volta e não vejo ninguém.
Muito provavelmente...
sou mesmo eu.
(ao som de Sting – It's probably me)

O Ontem... e o Hoje...

Hoje aqui,
por entre as paredes de meu quarto,
repouso a cabeça
sobre almofada
e penso
Ontem (à distância de um ano)
tinha cá o meu Pai...
hoje
Não!